terça-feira, 9 de junho de 2009

A minha família em Angola

A história da minha família, em Angola, começa há 59 anos atrás, quando o meu bisavô, Manuel dos Santos Pio, decidiu emigrar para o Ultramar, à procura de melhores condições de vida.O meu bisavô recebeu uma carta de chamada, à qual respondeu afirmativamente, e partiram, a 14 de Junho de 1950, rumo a uma colónia, onde tudo era desconhecido, Angola.Chegaram ao porto de Moçâmedes. Era uma belíssima cidade, com marginais largas e bastantes palmeiras, edifícios altos e modernos, esplanadas cheias, …uma nova realidade se adivinhava.Passadas algumas horas, partiram para Sá da Bandeira, onde o meu bisavô tinha o emprego garantido. O meu avô continuou a estudar. Mais tarde, os meus bisavós voltaram à metrópole, mas ele ficou.Em 1962, o meu avô estava a fazer uma nova viagem e a cumprir um novo destino. Foi para Moçâmedes. Como era aventureiro e activo, começou a praticar desporto: futebol, hóquei e basquetebol no Atlético Clube de Moçâmedes. Mais tarde, foi treinador profissional de basquetebol feminino, no mesmo Clube e no Sporting Clube de Moçâmedes.O ritmo de vida social era acelerado. Frequentava, assiduamente, bailes de gala, no Sporting Clube de Moçâmedes. Também ia a todos os bailes de Carnaval e desfilavam pela avenida principal.O cinema também fazia parte dos seus divertimentos. Umas vezes ia ao Impala Cine, que tinha uma esplanada ao ar livre, outras vezes ao Cineteatro Avenida. Gostava muito de ir à praia das Miragens e à Esplanada do Café Avenida. Assistia a todos os ralis que se realizavam na Marginal e corridas de motas.Em 18 de Junho de 1964, o meu avô resolveu vir visitar os pais à Metrópole, onde conheceu a minha avó e lhe pediu namoro. Nessa altura, correspondiam-se por cartas e, a 3 de Novembro de 1965, casaram-se por procuração.Um mês depois, a minha avó embarcou no paquete “Uíge” e foi para Moçâmedes. A 19 de Abril de 1967, os meus avós tiveram o seu 1.º filho. A 12 de Janeiro de 1969, nasceu a minha mãe.Ela frequentou o Colégio Nossa Senhora de Fátima, dirigido por religiosas.A minha mãe lembra-se bem dos pastéis de nata que comiam na Pastelaria Oásis, da praia das Miragens. Esta praia era um “cartão de visitas” desta cidade. As suas águas eram calmas e tinha um areal muito extenso e branco. Fazia a delícia das crianças e dos adultos.Era junto à praia que se realizavam as Festas do Mar, em Março, num recinto airoso onde funcionava a Feira Popular, com barracas de exposições, comes e bebes. Nessas festas, a minha mãe andava no comboio Bebé, havia cabeçudos e gigantones que desfilavam pelas principais avenidas, corridas de natação em mar, corridas de carros na marginal.A minha mãe também se lembra dos gelados Tico Tico, de ver filmes ao ar livre, no Impala Cine, de ir às matinés do Cine Moçâmedes, de ir passear para as “Hortas”. Recordar é viver…e como tal a mãe também me contou que, nos jardins da avenida principal de Moçâmedes, existia um busto de Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro (fundador da cidade), o Palácio da Justiça (tribunal) e uma fonte luminosa ladeada por uma elegante gazela. No Parque Infantil Alina Marques de Campos, além dos baloiços, escorregas e outros divertimentos, existiam duas atracções, com as quais as crianças vibravam: a Chica (uma macaca) e o Kaitô (um elefante).Saíram da sua terra, Moçâmedes, em 1975. Uma nova vida ia recomeçar…





















O avô com a minha mãe e o meu padrinho





Fábio Silva

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